Uma arquitetura residencial pós-pan (parte 8 de 9)

Estar em casa: acima de tudo, um prazer.

Nesta sequência de publicações no Davilabs em que exploramos conceitos para as residências a partir do aprendizado com a pandemia, o segundo espaço que propomos experimentalmente é a ‘Sala de Bem-estar’. Se este ambiente atende pelo menos uma das premissas que apresentamos inicialmente, a da ‘Saúde e Bem-Estar’, a depender do estilo de vida dos moradores, também pode contemplar a premissa do ‘Trabalho (em casa)’.

O conceito de bem-estar já vinha sendo desenvolvido de maneira mais enfática em espaços corporativos e agora ganha força na esfera residencial. Sem deixar de lado a beleza e o impacto visual, prescinde-se aqui da ostentação em benefício do real conforto daqueles que utilizarão a sala constantemente, ou seja, os próprios moradores. Assim, a antiga Sala de Estar passa a ser denominada ‘Sala de Bem-estar’.

Voltado ao entretenimento e a uma permanência agradável aos moradores, este espaço social não depende das visitas para se justificar. Pelo contrário, é utilizado intensamente pelos moradores em seu cotidiano e é palco para as principais interações humanas e familiares. Isto inclui o lazer e o entretenimento, ou mesmo o puro ócio, além das refeições, uma vez que o ambiente se integra diretamente à sala de jantar e copa. O trabalho em casa também é possível na ‘Sala de Bem-estar’, para as pessoas que se sentem mais produtivas quando recebem estímulos simultâneos e variados e que se sentem mais confortáveis em espaços mais amplos.

A opção é por ambientes abertos, fluidos e integrados. No entanto, segundo a opção do morador e recorrendo a soluções da arquitetura de interiores, é possível definir espaços um pouco mais reservados, marcando de forma mais intensa os usos diferenciados (estar; lazer; entretenimento; socialização; alimentação; contemplação do verde; trabalho em casa; etc).

Um dos pontos essenciais para a promoção de uma permanência agradável em casa é a farta iluminação e ventilação naturais, além do recurso ao ‘verde’. Por isso, a Sala de Bem-Estar conecta-se intensamente à varanda. A partir dali, do ambiente ‘externo’, as plantas avançam para o espaço interno da residência e a ocupam. Este movimento de radicalização do verde no interior das habitações é denominado urban jungle. Seu propósito é humanizar e ‘acalmar’ os residentes, além de promover sua saúde física e mental. Uma boa pedida para alcançar este objetivo é pensar na instalação das plantas em camadas: verticais, horizontais, dentro e fora e em múltiplos planos, de maneira que a presença do verde entre os ambientes se torna mais intensa, natural e fluida.

Em nosso próximo e último texto no Davilabs sobre nossa proposta para residências ‘pós-pan’, apresentaremos de forma mais detalhada o ‘Escridorme’, um misto de escritório e dormitório. Até lá!

Uma arquitetura residencial pós-pan (parte 6 de 9)

 

UM PROTÓTIPO RESIDENCIAL PÓS-PANDEMIA

Em nossa proposta para uma evolução na arquitetura residencial pós-pandemia, estabelecemos três diretrizes principais para nortear futuros projetos. Relembrando o que já apresentamos aqui no Davilabs, estas diretrizes são: Saúde e Bem-estar; Higiene e Trabalho (em casa), sendo que nos últimos textos, exploramos um pouco mais a fundo cada uma destas premissas.

Nosso passo seguinte é ilustrar, de maneira mais prática, uma possível aplicação destas diretrizes. Para tanto, desenvolvemos um protótipo residencial – um apartamento – que inclui pelo menos três espaços compatíveis com estes conceitos. As diretrizes podem e devem se expandir para todos os cômodos da residência, mas foi por razões didáticas que nos concentramos em três ambientes, os quais denominamos ‘Multihall’, ‘Sala de Bem-estar’ e ‘Escridorme’.

Partimos de uma residência de classe média alta, com área de 130m² (incluindo a varanda) e cujo projeto original incluía três suítes. A ideia era não alterar a área interna do apartamento, que foi, portanto, mantida, a despeito de algumas alterações significativas de programa e layout. Para alcançar esta meta de não interferir na metragem do projeto original, assumimos algumas ‘ousadias’, como, por exemplo, a eliminação do quarto e banheiro de serviço, além de um deslocamento radical do posicionamento de uma das suítes na residência. Fizemos isto para provar (para nós mesmos) que a quebra de paradigmas na direção de uma inovação espacial resulta de uma visão criativa que envolve perspicácia.

Em se tratando de uma proposta conceitual, entendemos que ela possa inspirar soluções em outros segmentos, incluindo o de imóveis residenciais voltados para outros estratos de renda em nossa sociedade, ou mesmo em outras tipologias, como a comercial, institucional, etc.

TRÊS ESPAÇOS EXPERIMENTAIS

Multihall
Resgatando os antigos vestíbulos e sem necessariamente demandar uma área significativa, o Multihall foi assim batizado por suas múltiplas funções: é o espaço de chegada e saída da residência, agora ritualizado. Oferece estrutura para higiene pessoal, guarda e desinfecção básica de produtos, além de organizar o acesso independente a variados ambientes da residência: área social; área de serviço; escritório e banho (lavabo). Acima de tudo funcional, o Multihall – que integra a área privativa do apartamento – tem o importante aspecto simbólico de promover a transição entre o mundo exterior e o interior da habitação, uma zona de descompressão e segurança que, portanto, conecta dois mundos.

Sala de Bem-estar
Já foi o tempo em que a Sala de Estar era a ‘sala de visitas’. Mesmo que recentemente ganhando novas funções, relacionadas ao entretenimento, esta sala ainda mantinha uma certa arrogância, quem sabe, até ostentação. A tendência que imaginamos, no entanto, é que a sala se converta cada vez mais em um local realmente agradável de se permanecer e interagir socialmente com os demais moradores e, também com os visitantes, quando o contexto permitir. Por estas razões sugerimos uma pequena alteração na nomenclatura, rebatizando o espaço como ‘Sala de Bem-estar’. Este ambiente contemporâneo integra a cozinha às refeições cotidianas, voltando-se ao lazer e entretenimento eletrônico e à socialização. Tudo, é claro, com muito verde integrado, muita luz e ventilação.

Escridorme
Os tradicionais escritórios de outros tempos podem voltar com força total? A resposta é sim, a partir de uma releitura. O afastamento social forçado que vivenciamos levou ao deslocamento de uma significativa parte da população que trabalha em escritórios de empresas para o desenvolvimento de suas atividades em casa. Assim, espaços dedicados ao trabalho dentro da residência passaram a ter uma relevância muito maior.

Trabalhar e conviver com os demais moradores não é tarefa das mais fáceis, uma vez que as fronteiras nos espaços improvisados são muito tênues. Por isso propusemos o ‘Escridorme’. O nome alude à versatilidade e ao uso múltiplo que deve caracterizar todo espaço contemporâneo bem projetado. Então este nosso novo escritório, posicionado bem à entrada da residência, conecta-se diretamente ao Multihall, o que permite o acesso independente de visitantes comerciais e de colegas de trabalho, por exemplo. É ao mesmo tempo um espaço independente que pode ser integrado de forma física à sala, caso o morador deseje, mas que em nossa proposta, configura-se como um espaço dedicado, que oferece a devida tranquilidade e privacidade para o trabalho. Além disso, funciona também – e muito bem – como uma suíte avançada, muito adequada para adolescentes, jovens e moradores seniores. Conta, portanto, com um banho completo, que também se conecta ao Multihall, servindo de apoio na jornada de desinfecção à chegada da residência.

Em nossos próximos encontros no Davilabs, apresentaremos cada um destes novos espaços com imagens ilustrativas. Até lá!